Texto previamente publicado no blog experimetal Pena de Santos (N. do A.). Em função da eterna condição chuvosa da cidade, creio que essa reflexão não está descontextualizada. O texto é de 18/10/2006.
Como nos últimos tempos só chove, parei para pensar nesse fenômeno climático. Hoje, no centro da cidade, quando a chuva aumentou, disse que construiria uma arca, porque o mundo estava prestes a ser novamente inundado. Essa reflexão me deixou intrigado.
A catástrofe do dilúvio está presente em diversas mitologias, não só na Bíblia. A mitologia suméria, assíria, armênia, egípcia, persa, greco-romana, hindu, inca, chinesa, dos aborígines australianos e indígena (de diversas partes) trata do dilúvio e de como uma ou poucas pessoas conseguem sobreviver.
A narrativa bíblica conta como Noé, avisado por um anjo, constrói a arca para salvar a Criação da ira de Deus, que iria inundar a Terra para livrá-la dos corrompidos.
A Epopéia de Gilgamesh conta como o imortal Utinapishtim foi avisado pela deusa Ea (ou Enki) das intenções de Enlil, o grande deus, que pretendia inundar a Terra. Para salvar-se e aos seus, constrói um barco e coloca nele a semente de todas as criaturas vivas, metais preciosos e artesãos. Este, porém, durou somente sete dias.
A mitologia greco-romana conta como, após a passagem humana por diversas eras (Idade do Ouro, da Prata, do Bronze e, finalmente, a Idade do Ferro), a corrupção e a maldade assolam o mundo. Zeus (ou Júpiter), diante de tamanha baixeza, convoca um conselho dos deuses, que decide exterminar a humanidade. Zeus e Poseidon (ou Netuno), então, inundam a Terra com chuvas e mares. Sobram somente o justo Deucalião e a devota Pirra (numa arca), que, literalmente, reconstruíram a humanidade (pedras).
O hinduísmo conta a história de Manu, o pai da humanidade, que foi avisado do dilúvio por um avatar de Vishnu, Matsya (um peixe); construiu, então, um barco e nele pôs os sete sábios (Rishis).
Os maias, no Popol Vuh (livro de lendas), contam como os deuses aniquilaram a humanidade que, por ser feita de madeira, tornou-se altiva, vaidosa e frívola.
A água é considerada, por diversas tradições, o meio de purificação por excelência; a ciência a chama de solvente universal. É com ela que, diariamente, nos limpamos. Santos, pela sua proximidade com o mar e pela sua descomunal umidade relativa do ar, a tem sempre presente. E essa incessante chuva. Dado o estado das coisas, penso sempre na opinião dos deuses a respeito.
Quando olho em torno, apesar de ver a evidente derrocada do gênero humano, vejo alguns focos luminosos. O problema é que o número daqueles suplanta o destes (em muito). Como Hamlet, vejo "algo de dinamarquês no reino da podridão", e o cheiro já chegou ao firmamento. Talvez estejamos no começo da profilaxia divina. Espero que não precisem usar sabão.
quarta-feira, abril 23, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário