sexta-feira, junho 02, 2006

Artistas e Arteiros

Movido pela minha já citada indignação, resolvi me aventurar na crítica de arte. Nas conversas em que tal assunto despontou, comecei a pensar no tema, mas foi em um fatídico domingo, almoçando na casa da minha avó, ouvindo dela o seguinte comentário sobre o Abaporu que decidi me posicionar a respeito: "Ah, eu não gosto da Tarsila do Amaral... Ela faz uns desenhos horríveis, com um pézão...".
Entre protestos irados do meu pai, minha parte intelectiva começou a conjecturar... Logicamente, dei razão à minha avó.
Como acredito que tudo pode (e deve) ser valorado e que argumentos como "gosto não se discute" (para que existe a crítica de arte então?) são usados por indivíduos que ou não entendem nada do assunto ou tem um gosto, no mínimo, duvidoso, decidi dissertar a respeito.


Este é o auto-retrato de Leonardo da Vinci (como algo aconteceu com a imagem, aqui está o link da obra referida: http://br.geocities.com/saladefisica9/biografias/davinci10.jpg), pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, considerado um mestre das Belas-Artes e um ícone da Renascença. Pode-se notar facilmente sua genialidade nesse desenho, que me surpreende sempre que o admiro.

Vamos a outro exemplo, desta vez na escultura:



O Moisés de Michelangelo é uma de minhas obras preferidas, tamanha sua beleza. Completamente justificável, para mim, a reação irada do mestre florentino que, após ordená-la a falar, não recebeu nada mais que a indiferença do profeta marmóreo.


Para contrapor esse legado infungível da humanidade, seguem-se, respectivamente, outro "retrato" e outra escultura:



Estamos aqui observando um auto-retrato. Algum leitor desavisado poderá pensar que eu, num desvario doentio, quis mostrar ao mundo minha inaptidão artística. Não caro ledor, este é o fruto do renomado artista espanhol Joan Miró que, diante de um espelho, não tem a capacidade de enxergar nada mais que meros rabiscos.



Essa me traz um pouco de tristeza. Gostaria de ter visto quando a nave espacial pousou na Praça dos Três Poderes para seus tripulantes conhecerem nosso líder... Do evento, só sobrou essa homenagens aos seres humanóides, que até que lembram a raça humana.

Fazendo um estudo comparativo (que, de acordo com a minha mãe, é uma baita covardia), não consigo entender por que o maternal foi enaltecido a tal ponto. Prefiro as obras de gente grande, que fazem jus ao ditado "A Arte imita a Vida e a Vida imita a Arte"; imaginem só que mundo bizarro seria esse se pudéssemos dizer isso hoje.
Não estou, com isso, desprezando as "evoluções tecnológicas" que foram trazidas com o passar do tempo, mas sim a concretização dos trabalhos. Afinal, de nada adianta ter o domínio da técnica se não se sabe como nem onde utilizá-la.

Só espero que o advento da "Arte Moderna" evolua logo até o Neolítico, com a maravilhosa arte rupestre, para, quem sabe, um dia retornar à perfeição estética.

8 comentários:

alvestoteles disse...

hahahah

Anônimo disse...

BOA!!! ahauhauahua

Gabs disse...

Removi o comentário anterior por colocar indevidamente palavras na boca do autor... ou quase isso. Nunca foi essa a intenção, ao contrário. Gostei muito do Post e lá vai o comentário corrigido:

Arte moderna não passa de um retorno à indisciplina bárbara e selvagem, como você bem integrou no texto. No entanto, há quem ache esta arte bela... existe gosto (e mal gosto, como dizem por aí) para tudo. Costumam dizer que gosto não se discute. Se discute sim, e se alguém admira o feio e rejeita o belo, aí temos que aplicar a liberdade individual de cada um... acima de qualquer coisa.

Oliveira Sampaio disse...

Com certeza Gabriel! Mas com os devidos pingos nos "i"s!

Anônimo disse...

Mas gosto não se discute, se lamenta... Queria ter a coragem do Miró para mostrar para o mundo todo que não sei desenhar nem casinha com chaminé. Aliás, sem a chaminé já é bem difícil, acho que o Juan concorda.
Abraço, e continue o bom trabalho =)

Anônimo disse...

Até concordo com alguns pontos de vista do autor. Entretanto, achar que a arte de Joan Miró é coisa de criança é ignorância artística.
Pense bem, a arte moderna dá outro ponto de vista da realidade.
Principalmente partindo-se de que Joan Miró é o líder do Movimento Espanhol Surrealista. O surrealismo é uma vanguarda européia que mescla o ambiente de sonho com o real.
O Surrealismo de Miró se interessa pela pintura poética(ou seja, uma poesia visual), há uma tentativa de abolir a fronteira entre mundo real e imaginário.
Certamente o autoretrato não é uma réplica de seu reflexo no espelho. NEM TENTA SER, se tentasse seria horrível, mostraria que Miró não sabe pintar. Entretanto para uma formação acadêmica que envolve desenho e arte decorativa na Escola de Arte Francesc Gali, em Barcelona não é para alguém que não tem dons artísticos.
Miró expõe outro lado do auto retrato, vc já pensou que ele talvez estivesse mostrando que no fundo ele é uma criança reprimida? (Que eu saiba não é isso q ele mostra, estou apenas exemplificando).Quando você olha pra álguem vc só vÊ o formato do nariz, olhos, boca? Ou você enxerga mais?
Miró se preocupa com a expressão, seus sentimentos e percepções podem ser expostos em um vaso, uma sucessão de traços perfeitos? Acho que não. Talvez tenhamos todos um tanto de imperfeitos, um bom tanto de traços tortos, borrões de cor, e muitas cores.
Suas pinturas abstratas, configurando a expressão sobretudo de estímulos irracionais e de alucinações. Típico das viagens transcendentes pelos alucinógenos usados, principalmente pelos artistas... inclusive os gregos.

Anônimo disse...

Ah, confira:
http://www.historiadaarte.com.br/imagens/surlapoetesse.jpg
e daí você me diz se isso não é arte.

Oliveira Sampaio disse...

Nunca descartei a possibilidade (aliás, bastante provável) da minha ignorância artística, mas você há de concordar que não há nenhuma habilidade artística nem nenhuma mensagem especial nesta obra. Deixe-me usar a comparação (que é uma ótima forma de valorar): No da Vinci, percebe-se sua expressão austera, intrigada, meditativa, suas rugas, seus olhos, nariz, boca, cabelo, barba... Tudo isso feito de forma a realçar a face, que é a exteriorização dos anseios mais profundos da alma do indivíduo. No Miró, não consigo enxergar nada disso. Eu li, no lugar de onde tirei a imagem, que essa mancha azul significa o sentimento de solidão do autor; ao contrário do da Vinci, somente o autor pode exprimir o que realmente queria transmitir com essa obra (por mais que somente o autor saiba exatamente o que queria transmitir, a diferença entre os bons e os ruins está na clareza dos seus propósitos).
Admito que joguei pesado com o auto-retrato do Miró. Existe outro auto-retrato mais fiel à realidade (por mais que esteja um pouco longe do que eu considere belo).
O fato de ser aceito na Escola de Arte Francesc Gali não quer dizer muita coisa além do corporativismo na pintura. Michelangelo e Leonardo abandonaram as escolas que freqüentavam (as melhores da época) porque os tolhiam ao invés de os otimizar; é uma questão de genialidade.
É interessante destacar também a adesão que o trabalho de Miró encontra no público infantil.
Sobre fazer "pintura poética", temos que saber a que tipo de poesia ele se refere. Parece-me ligado às poesia moderna, onde não se tem o mínimo apreço por rima, métrica, coesão, sentido; enfim, não tem o mínimo compromisso com a poesia. O mesmo pode ser dito de Miró, ainda mais quando demonstrou sua vontade de «assassinar a pintura».
Uma obra não deixa de ser um reflexo do pensamento do autor, como você mostrou (ou pelo menos pareceu-me que sim); podemos concluir, portanto, que Miró era um cara "meio" confuso.
Reitero a sua frase com uma pequena modificação: Todos temos imperfeições, e cabe a cada um, na medida que julgue necessário, buscar a perfeição, como fizeram os mestres anteriormente citados.
Gostei muito da sua crítica, e espero que você continue lendo minhas humildes considerações acerca da vida e comentando conforme lhe convier.
Beijos.
Ps.: Vi a pintura que você mostrou e, confesso, além de não me ter dito nada, consegui imaginar uma criança desenhando com menos capricho, mas com igual inspiração (apesar de ter gostado do quadro).
Achei uma manifestação artística - daquelas em que a criança, ao desenhar na parede de seu quarto, recebe a bronca da mãe: "Menino! Para de fazer arte!"