"Todos os homens, por natureza, desejam conhecer." Pensando na desgraça intelectual global e globalizante, pensei nessa afirmação de Aristóteles. Após colher diversas informações de diversas experiências, duvidei dessa máxima do Estagirita. Poderia uma inteligência incomparável como a de Aristóteles ter se enganado sobre uma característica essencial do ser humano?
Lembrei também de um sujeito baixinho, gordinho, careca e que não sabia nada: Sócrates. Após ler a introdução do diálogo de Platão intitulado "Apologia de Sócrates", pude vislumbrar o magnífico trabalho empreendido por esse Grande Homem. Sócrates, preocupado com seus compatriotas, iniciou um projeto: educar os atenienses. Tal proposta, porém, levou-o à morte.
Sócrates explica, no seu julgamento, o motivo de tanto ódio em relação à sua pessoa. Xenofonte, seu amigo, perguntou à pitonisa de Delfos se havia alguém mais sábio que Sócrates. A resposta do deus foi negativa. Sócrates, diante do ocorrido, ficou perplexo: logo ele, que nada sabia, era justamente o homem mais sábio? Mentira o deus? Decidiu então comprovar a veracidade de tal afirmação, recorrendo a todos os homens considerados sábios. Ia de um a um, políticos, dramaturgos/comediantes, professores (sofistas), e os indagava a respeito das áreas de suas respectivas atuações. Descobriu com isso duas coisas importantíssimas: descobriu que o Oráculo, conforme suas expectativas, não mentira; era realmente mais sábio do que os ditos sábios da época, pois ele sabia que não sabia, enquanto os outros não sabiam que não sabiam, ou, em outras palavras, acreditavam que sabiam. A outra coisa foi que homens importantes (justamente os indagados por Sócrates), vaidosos como todos os crédulos, não gostam de ser desmascarados e humilhados. O fim de Sócrates é de fácil previsão.
Essas duas referências me fizeram chegar a uma conclusão. Observando as conversas de um modo geral (seja no ambiente universitário, casual, íntimo, intelectual, etc.), percebi a credulidade patente da quase totalidade das pessoas.
Aristóteles não estava nem um pouco errado. Todas as pessoas procuram o conhecimento; o problema é todos julgarem ser a encarnação mesma da sapiência. A mesma característica dos opositores de Sócrates.
Essa hipótese é rapidamente verificável. A maioria absoluta das pessoas, ao ouvir a palavra Filosofia - por exemplo, rejeita (movida por um impulso emocional indiscernível) qualquer coisa que se aproxime dessa "coisa de malucos" ou "coisa de gente que não tem nada pra fazer" (pode-se, num estudo à parte, verificar os interesses que fomentaram tal aversão; que nebularam a intelligentzia). Sem a menor preocupação de verificar essa opinião antes de proferi-la, julgam categoricamente, na menor das hipóteses, toda uma ciência (isso para não dizer a totalidade das ciências, todas derivadas da Filosofia) com a arrogância da pretensa onisciência. Num debate para demonstrar o erro de tais afirmações, o interlocutor ficará emocionalmente afetado, pois um credo - que ele necessita para sentir-se bem, seguro, diante da realidade - está sendo atacado.
Interessante também é notar a atribuições de características comuns a eles ao outro, julgando abarcar, confirmando a regra, todo o emaranhado mental de seu opositor, dizendo que ele somente está defendendo interesses de classe (com certeza de uma classe opressora e má), está exteriorizando um desejo reprimido(às vezes até relacionado com a própria mãe), está
causando polêmica ou qualquer outra coisa estúpida o suficiente para ser levada em consideração. Têm a necessidade de manter inabaláveis suas crenças, sob o perigo de desmoronar todo seu fraco e mirrado estado psicológico/emocional. A Verdade é cruel... pra quem é fraquinho.
Sócrates tentou mostrar os requisitos para compreender a realidade: sinceridade e vontade. Isso é bastante difícil, principalmente no Brasil, onde a palavra sinceridade está quase desaparecendo do léxico por não ter correspondência real de signo-significado. Uma discussão entre um sujeito que acredita que o outro acredita e o outro, que sabe que sabe, somente trará, nesse panorama nefasto, desgraças para este.
O Projeto Socrático é necessário para higienizar a sociedade como um todo e deve ser empreendido a qualquer custo, numa tentativa de renovar o lixo mental de uma multidão infindável. Talvez, desse jeito, surja um novo Aristóteles.
*PS.: Para quem tiver um pouco de humildade e quiser descobrir se sabe o que acha que sabe, recomendo o texto "Inteligência e Verdade" do filósofo Olavo de Carvalho.
Lembrei também de um sujeito baixinho, gordinho, careca e que não sabia nada: Sócrates. Após ler a introdução do diálogo de Platão intitulado "Apologia de Sócrates", pude vislumbrar o magnífico trabalho empreendido por esse Grande Homem. Sócrates, preocupado com seus compatriotas, iniciou um projeto: educar os atenienses. Tal proposta, porém, levou-o à morte.
Sócrates explica, no seu julgamento, o motivo de tanto ódio em relação à sua pessoa. Xenofonte, seu amigo, perguntou à pitonisa de Delfos se havia alguém mais sábio que Sócrates. A resposta do deus foi negativa. Sócrates, diante do ocorrido, ficou perplexo: logo ele, que nada sabia, era justamente o homem mais sábio? Mentira o deus? Decidiu então comprovar a veracidade de tal afirmação, recorrendo a todos os homens considerados sábios. Ia de um a um, políticos, dramaturgos/comediantes, professores (sofistas), e os indagava a respeito das áreas de suas respectivas atuações. Descobriu com isso duas coisas importantíssimas: descobriu que o Oráculo, conforme suas expectativas, não mentira; era realmente mais sábio do que os ditos sábios da época, pois ele sabia que não sabia, enquanto os outros não sabiam que não sabiam, ou, em outras palavras, acreditavam que sabiam. A outra coisa foi que homens importantes (justamente os indagados por Sócrates), vaidosos como todos os crédulos, não gostam de ser desmascarados e humilhados. O fim de Sócrates é de fácil previsão.
Essas duas referências me fizeram chegar a uma conclusão. Observando as conversas de um modo geral (seja no ambiente universitário, casual, íntimo, intelectual, etc.), percebi a credulidade patente da quase totalidade das pessoas.
Aristóteles não estava nem um pouco errado. Todas as pessoas procuram o conhecimento; o problema é todos julgarem ser a encarnação mesma da sapiência. A mesma característica dos opositores de Sócrates.
Essa hipótese é rapidamente verificável. A maioria absoluta das pessoas, ao ouvir a palavra Filosofia - por exemplo, rejeita (movida por um impulso emocional indiscernível) qualquer coisa que se aproxime dessa "coisa de malucos" ou "coisa de gente que não tem nada pra fazer" (pode-se, num estudo à parte, verificar os interesses que fomentaram tal aversão; que nebularam a intelligentzia). Sem a menor preocupação de verificar essa opinião antes de proferi-la, julgam categoricamente, na menor das hipóteses, toda uma ciência (isso para não dizer a totalidade das ciências, todas derivadas da Filosofia) com a arrogância da pretensa onisciência. Num debate para demonstrar o erro de tais afirmações, o interlocutor ficará emocionalmente afetado, pois um credo - que ele necessita para sentir-se bem, seguro, diante da realidade - está sendo atacado.
Interessante também é notar a atribuições de características comuns a eles ao outro, julgando abarcar, confirmando a regra, todo o emaranhado mental de seu opositor, dizendo que ele somente está defendendo interesses de classe (com certeza de uma classe opressora e má), está exteriorizando um desejo reprimido(às vezes até relacionado com a própria mãe), está
causando polêmica ou qualquer outra coisa estúpida o suficiente para ser levada em consideração. Têm a necessidade de manter inabaláveis suas crenças, sob o perigo de desmoronar todo seu fraco e mirrado estado psicológico/emocional. A Verdade é cruel... pra quem é fraquinho.
Sócrates tentou mostrar os requisitos para compreender a realidade: sinceridade e vontade. Isso é bastante difícil, principalmente no Brasil, onde a palavra sinceridade está quase desaparecendo do léxico por não ter correspondência real de signo-significado. Uma discussão entre um sujeito que acredita que o outro acredita e o outro, que sabe que sabe, somente trará, nesse panorama nefasto, desgraças para este.
O Projeto Socrático é necessário para higienizar a sociedade como um todo e deve ser empreendido a qualquer custo, numa tentativa de renovar o lixo mental de uma multidão infindável. Talvez, desse jeito, surja um novo Aristóteles.
*PS.: Para quem tiver um pouco de humildade e quiser descobrir se sabe o que acha que sabe, recomendo o texto "Inteligência e Verdade" do filósofo Olavo de Carvalho.
3 comentários:
Muito bom tê-lo de volta ao mundo da escrita.
Só toma cuidado com a cicuta. hehehe
abraço
Acabei de ler todos os textos do seu blog! :) Então. Bom relato das atividades de Sócrates. Mas eu ainda duvido da afirmação de Aristóteles, pois achar que conhece não é conhecer. E ponto.
Grande abraço. E Socratizemo-nos!
Agradeço o interesse!
Não entendi sua crítica a Aristóteles. Onde ele diz que achar que conhece é conhecer de fato (ainda mais ele)?
Abraço!
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